domingo, 6 de abril de 2008

Sobre Peras




“Eu, miserável, o que foi que amei em ti, furto meu, noturno delito dos meus dezesseis anos? Não eras belo, pois eras roubo! Mas, realmente és alguma coisa, para que eu possa dirigir-me a ti? As pêras que roubamos, sim, eram belas por serem criaturas tuas, ó Bom Deus, criador de toda beleza, sumo bem e meu verdadeiro bem! Sim, eram belas aquelas frutas, mas não era a elas que minha alma infeliz cobiçava; eu as possuía em abundância e melhores. Eu as colhi somente para roubar, e uma vez colhidas, atire-as fora para saciar-me apenas com a minha maldade, saboreada com alegria. Se alguma tocou meus lábios, foi o meu crime que me deu sabor”. (Conf. II, 6, 12)

Na minha opinião, esse é o trecho mais interessante das Confissões de St. Agostinho. Simplesmente por que eu me identifico completamente com ele. Quando mais novo tinha a impressão de que só eu sofria com essa situação. Fiquei feliz, e espantado ao mesmo tempo, quando descobri que um homem no norte da África, séculos anteriormente a mim, tinha sentido a mesma sensação.
Não havia motivo algum para que Agostinho roubasse aquelas peras. Ele tinha uma vida excelente para os padrões de sua época; como ele mesmo nos diz no jardim de seu pai haviam peras bem melhores do que aquelas. Agostinho chega então a um ponto no qual ele foi um verdadeiro mestre: o de confessar. Ele confessa, primeiramente diante de Deus, e depois, diante de nós, que roubou aquelas peras simplesmente pelo prazer de fazer o que era errado.
Como é triste, pelo menos pra mim, ter de me encarar várias vezes e refletir a respeito de por que fiz certas coisas. Triste por que ao final tenho que confessar que fiz apenas pelo prazer de fazer o errado. Porém, o prazer de fazer o errado é momentâneo e falso, ele logo se esvai juntamente com a atitude errada e deixa no lugar apenas um sentimento de culpa angustiante que castiga nossas consciências.
E aí que devemos aprender com Agostinho. Temos de confessar diante de Deus que nos arrependemos das peras que roubamos e se possível usar esse arrependimento para edificar os que caminham conosco. Como é incrível imaginar que a confissão e o arrependimento de um homem que viveu no século III d.C. pudesse me edificar hoje em pleno século XXI!
Como é difícil ter de conviver com nosso velho homem.. ele sempre nos leva a fazer coisas que não queríamos fazer. Precisamos constantemente estarmos em oração; para que o velho homem não nos leve mais e mais vezes a sentir aquela mesma sensação...

E, como não poderia deixar de ser... tem uma música do Petra


As Peras de Santo Agostinho

Uma noite passada eu ouvi uma batida na porta.
Os garotos estavam caindo na farra.
Eu era apenas outro garoto adolescente entediado
Provocando e agindo como palhaço...yeah!

Um desafio levou a outro desafio.
Então as coisas estavam saindo de controle.
Nós pulamos a cerca e nós roubamos as pêras.
Eu joguei fora uma parte da minha alma,
Sim eu desperdicei uma parte da minha alma

(Agora isto...)
Assombra-me como eu roubei aquelas pêras.
Porque eu amava o errado.
Muito embora eu conhecesse a maneira melhor.
Não por fome ou pobreza.
Foi mais do que pêras que eu acabei desperdiçando... Yeah!

O tempo passa agora eu sou velho e grisalho.
Aquelas pêras são apenas uma memória.
Eu alegremente pagaria tudo o que tenho hoje.
Mas isto apenas não é o problema que você vê.

(Porque isto...)
Assombra-me como eu roubei aquelas pêras.
Porque eu amava o errado.
Muito embora eu conhecesse a maneira melhor.
Não por fome ou pobreza.
Foi mais do que pêras que eu acabei desperdiçando... Yeah!

Por que nós amamos todas as coisas que são erradas?
O fruto proibido tem uma estranha e fascinante canção.
Por que nós fazemos o que nós não queremos fazer?
Pois vivemos com remorsos a nossa vida inteira.

E eu nem mesmo gosto de pêras tanto assim...

2 comentários:

Sansersons disse...

1º uma pergunta: Você escreve os textos de acordo com uma música do Petra, ou sempre tem uma música do Petra para cada texto que você escreve?

2º Engraçado você se comparar com st. Agostinho, na minha opinião nossa vida é apenas reflexos de experiências já vividas numa roupagem totalmente nova. Vivemos um eterno remake de nossos antepassados.

Sidão disse...

"fazer por apenas fazer"

Começa com uma palavra e termina com ela mesma, que acaba por começar outra, tipo:

"...fazer por apenas fazer por apenas fazer por apenas fazer por apenas fazer por apenas fazer por apenas fazer por apenas fazer ........." e vai para o infinito e alem hehe

Acho que para parar este ciclo falto um bocado de força de vontade e o Amigo do seu lado pra enfretar tudo isso!