domingo, 2 de dezembro de 2007

A sociedade e a eterna busca pela felicidade




É só você ligar a Tv para ouvir um "especialista em felicidade" falando: "Você tem que ser feliz! Vá e lute pela sua felicidade!". Os "especialistas em felicidade" aparecem em todo tipo de programa que se possa imaginar, inclusive em novelas e filmes, pois estes mais do que outros sugestionam pessoas a agir daquele ou de outro modo. Fato comprovado é que, em nossos dias, felicidade imediata e a todo custo é a demanda principal da maioria esmagadora ( e eu nunca usei a palavra esmagadora com tanto peso) da sociedade.
Bem, feita a constatação inicial agora há um importante aviso a ser feito, daqui em diante esse texto se dirige exclusivamente, a quem é, ou pelo menos pensa ou quer ser Cristão. Sim explico por que. De agora em diante eu passarei a versar sobre algumas coisas que Jesus Cristo ensinou sobre felicidade, logo, se você não se considera um cristão não fará muita diferença para você (obrigado por ler o argumentações do brejeiro de toda forma). Agora, meu amigo leitor que é Cristão, preste atenção e reflita bem no que vai ler de agora em diante ( e se não concordar os comentários do blog estão aí para isso, debate é sempre bom).
Para choque e desespero de alguns cristãos eu quero informar aqui que: Buscar a Felicidade NÃO é o objetivo primário do verdadeiro cristão. É isso mesmo que você leu, e aqui considero como cristão não o "cristão cultural"; estou falando de pessoas que crêem em Cristo e estão realmente dispostas a seguirem seus ensinamentos.
"Ora, buscar a felicidade NÃO é a finalidade do cristão, o que é então seu sabichão?" para fazer um pergunta bem "a lá" criancinha juvenil que visita Nárnia pela primeira vez. Vejamos então SEGUNDO a Bíblia (sim , aquele livro preto que fica aí na estante da sua casa e você custa a lê-lo de vez em quando) qual é o objetivo principal do cristão.
Hoje um pastor me atentou para uma coisa bem interessante que eu nunca tinha notado no sermão do monte, que vai a seguir para que você possa assim como eu notar também:

Mateus 5:1


Jesus, pois, vendo as multidões, subiu ao monte; e, tendo se assentado, aproximaram-se os seus discípulos,


Mateus 5:2


e ele se pôs a ensiná-los, dizendo:


Mateus 5:3


Bem-aventurados os humildes do espírito, porque deles é o reino dos céus.


Mateus 5:4


Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.


Mateus 5:5


Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.


Mateus 5:6


Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles serão fartos.


Mateus 5:7


Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia.


Mateus 5:8


Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.


Mateus 5:9


Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.


Mateus 5:10


Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.


Mateus 5:11


Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguiram e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa.


Mateus 5:12


Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram aos profetas que foram antes de vós.






Ok, alguém aí leu "Bem-aventurado os caçadores de felicidade, por que serão felizes"? Bem creio que você não leu esse versículo simplesmente porque ele não existe. Apesar disto, diversas "igrejas" hoje pregam a existência desse versículo, baseiam seus cultos e ensinamentos todos sobre o alicerce de um versículo inexistente. Mas obviamente o fazem porque dessa forma corroboram com o discurso da sociedade em geral, revestem o desejo do homem natural de um disfarce cristão, sim disfarce porque nem a palavra roupagem serviria nesse caso. Então podemos concluir que igrejas e seitas de teologia duvidosa repetem os anseios do mundo dando-lhes um disfarce espiritual que alivia a consciência das pessoas, que pensam estar agradando a Deus, quando na verdade estão errando.
Mas então, se buscar a felicidade não deve ser o objetivo inicial do cristão ( e se o fosse o cristianismo seria uma religião de egoísmo e não de humildade) qual é o objetivo então? A resposta esta novamente naquele livro preto que fica lá na sua estante a semana inteira.

Mateus 6:33


Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.


O Versículo tem uma relação direta com Mateus 5:6.
A resposta fica tão clara que penso que não preciso nem explanar muito mais. Sim, para o verdadeiro cristão o Reino de Deus e a Justiça devem ser buscadas ANTES da felicidade. Veja só que interessante "e a sua Justiça". A partir de então basta que façamos algumas ligações lógicas simples para entendermos por que nossa sociedade hoje não é feliz e continuará, infelizmente, não sendo. Ora, se existe hoje em dia uma coisa que a sociedade não busca é o Reino de Deus, e quanto mais se dirá da Justiça!

A cultura brasileira do "Jeitinho" permanece burlando regras e se maximiza no poder público em forma de corrupção; sim é isso que estou defendendo o político corrupto não é nada menos do que um brasileiro comum que teve oportunidade de, ao invés de furar uma fila ou não devolver um troco, cometer uma injustiça de proporção maior. A Justiça passa longe da nossa sociedade hoje. Não a praticamos. Não a exigimos. Só assistimos.
Meu caro leitor, esse "Todas as coisas vos serão acrescentadas" do final do versículo é TODAS mesmo, isso inclui a felicidade que tanto buscamos. No entanto acabamos de perceber que a felicidade assim como todas as outras coisas são simples decorrências de nossa busca pelo Reino de Deus e pela Justiça. Busque o Reino de Deus e pratique a Justiça, no mais simples dos atos seja justo, e TODAS as outras coisas, incluindo felicidade, vos serão acrescentadas.


"A maioria dos leitores de Lewis pensa que Brejeiro é um personagem triste, por causa de seu pessimismo latente, enganam-se. Ele é um dos personagens mais felizes em todas as Crônicas de Nárnia, pois é ávido por justiça e creu em Aslam quando quase ninguém cria mais. "

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

A Responsabilidade Social da Igreja


Olá pessoal. Nesse post eu quero falar sobre algo que se escuta muito falar na teoria mais que infelizmente não é uma realidade prática dentro das Igrejas protestantes: Responsabilidade Social. É realmente estranho que as Igrejas façam tão pouco por esta área , já que Jesus Cristo, o cabeça da Igreja, tenha deixado tantas e tantas recomendações a respeito do cuidado com os necessitados e da necessidade de se dividir com aqueles que não tem, aquilo que Deus tem nos dado.
Tenho visto algumas Igrejas se despertando para esse ministério, irmãos tem acordado para a necessidade urgente de se ajudar as milhares de pessoas que jazem sem nenhum apoio. No entanto esse tipo de ministério tem sido posto em importancia secundaria nas Igrejas, já que os irmãos que cuidam do social não "aparecem" nos cultos nem são "vistos" pelas maiorias , além do mais a ação social é sempre feita na maioria das vezes em horários alternativos e principalmente aos fins de semana fato que faz com que esse ministério conte sempre com pouquíssimas pessoas. A maioria não pode "gastar" o seu precioso fim de semana ajudando quem passa a semana toda penando.
Muitos dizem "Ah! Isto é obrigação do governo e da sociedade"
Governo e sociedade além de fazerem esporadicamente o fazem com intenções de beneficio próprio, governos fazem na busca de ganhar eleitorado e a maioria da sociedade o faz por desencargo de consciência, crendo na falsa idéia de que suas obras podem leva-los a Deus. Não há para onde correr, é responsabilidade da Igreja, dada pelo próprio Cristo.
E mais, apenas alimentar ou dar assistência não resolverá nada, deve-se trabalhar com essas pessoas de maneira continuada, visando a verdadeira solução dos problemas destas pessoas e não somente trazer soluções paliativas. Assim quando essas pessoas tiverem o mínimo de dignidade possível trazer a elas a mensagem que salvará suas vidas eternamente e não só enquanto estiverem vivas neste mundo.
A sua Igreja tem feito esse trabalho? Você tem ajudado? Ou assim como a maioria você ignora que essas pessoas existam e continua vivendo a sua boa e tranqüila vida?
Tornarei a repetir, é responsabilidade da Igreja e ninguém menos que Cristo foi quem ordenou, não para que busquemos salvar-nos através destas obras, mas para que através delas nos levemos mensagem de esperança e salvação aos tantos necessitados.
Finalizando eu gostaria de compartilhar com vocês uma canção do Petra, que trata de maneira excepcional deste assunto: "Rose-Colored Stained Glass Windows"

Os Vitrais de cor rosada*
Palavras e música por Bob Hartman

Outro domingo sonolento seguro dentro das paredes
Fora de um mundo agonizante, clamando desesperado
Mas ninguém ouve os seus gritos ou sabe algo sobre eles
As portas estão fechadas dentro, ou é o inverso?

(Coro)
Olhando por vitrais de cor rosada
Nunca permitindo que o mundo entre
Não vendo nenhum mau e não sentindo nenhuma dor
E fazendo da luz que vem de dentro
Tão fraca... Tão fraca

Em seus degraus jazem massas decaídas
"Ignore-os bastante e talvez logo eles irão embora"
Quando você tem muito a pensar você tem muito a perder
Você pensa não fazer nenhuma falta ate ser realmente destituído


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* No Tennessee, estado onde Bob Hartman nasceu e cresceu, era comum que os templos das igrejas tivessem vitrais de cores rosadas-avermelhadas. A escolha de citar a cor da janela da própria igreja que freqüentou na adolescencia é a forma que Hartman encontrou para dizer que primeiramente esta foi uma lição que ele mesmo teve de aprender. Da mesma maneira esse post age para comigo.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Relativismo Absoluto e o Conceito de Verdade



É extremamente comum nos dias de hoje, e principalmente no meio acadêmico, a idéia de um relativismo absoluto. Afirmações como: "Não posso fazer nada por que a minha opinião é verdade para mim mas não é para o outro" "Não podemos dizer que isso é errado pois é apenas a nossa opinião que não é a de fulano.". E a mais grave de todas: "Que bom que Jesus faz bem pra você! Desde que você não force ninguém a aceitar Jesus também isso é ótimo!" Todos esses discursos que eu arrolei acima fazem parte do que eu chamo de Relativismo Absoluto. Nesse texto pretendo mostrar como esse Relativismo Absoluto pode levar o Cristão, paulatinamente a negar princípios cristãos fundamentais e como isso pode leva-lo a uma das piores praticas dos nossos dias: o cristianismo relativista ou "de fachada".
Inicialmente gostaria de deixar claro, para que não tenham oportunidade de me mal interpretarem, que sou contra toda e qualquer espécie de violência baseada em qualquer principio e mais ainda quando esse principio é religioso. Assim se o leitor pensa que pode usar os argumentos seguintes para afirmar caluniosamente que eu defendo algum tipo de "guerra santa" é melhor parar de ler o texto por aqui, pois não lhe darei essa oportunidade. A bíblia é clara em afirmar que o evangelho não vem nem por força nem por poder.
O Relativismo Absoluto prega que a Verdade não é unica, segundo essa corrente de pensamento, que se considera moderna, existem varias verdades que valem para aqueles que nelas acreditam e que essas verdades não podem se excluir por serem elas questões culturais. De fato, devo admitir que "verdades absolutas" trouxeram o homem a situações completamente kaoticas como por exemplo o Nazismo, porém como ressaltei os fascismos foram "verdades absolutas" e não "A Verdade Absoluta". Logo, argumentar que a defesa de uma verdade absoluta pode gerar uma situação totalitária é sim valida, porém no âmbito do "pode vir a ser" podemos argumentar todo o tipo de coisa por mais esdrúxula que ela seja. Dessa forma um dos argumentos do Relativismo Absoluto é a prevenção do preconceito e de praticas fascistas totalitaristas, o que já vimos não fazer muito sentido.
A pratica relativista têm figurado em muitos âmbitos da vida moderna, e tem sido amplamente usada como desculpa e pretexto de omissão do homem dos nossos dias diante de diversos fatores cruciais de sua própria vida, como por exemplo questões morais, éticas e principalmente religiosas. Assim, vejo o Relativismo Absoluto como a grande "muleta" do século XXI, onde o homem moderno se apóia na tola tentativa de burlar sua própria consciência e prorrogar o máximo possível o seu inevitável encontro com Deus.
Veja só, não estou atacando a tolerância religiosa, graças a Deus, vivemos em um país de principio democráticos onde é permitida qualquer espécie de manifestação religiosa. E isso é bom, protestantes sabem disso pois seus missionários sâo perseguidos em locais onde não há tolerância religiosa. O que quero deixar claro é que existe uma diferença colossal entre tolerância religiosa e Relativismo Absoluto. Explico. Tolerar e conviver com outras religiões é algo essencial e faz total sentido se realmente cremos que Deus deu Livre-Arbítrio aos seres humanos. Isto é completamente diferente de não atribuir verdade a determinada religião. Respeitar uma religião não implica em que eu tenho que acreditar no que ela prega. Ora! Isso é obvio! É aqui que o Relativismo Absoluto se diferencia de tolerância religiosa, para o relativista toda religião contem a verdade. É o velho ditado popular "Todas as Religiões levam a Deus". O Cristianismo nega essa afirmação. O próprio Cristo afirmou ser o caminho a verdade e a vida e acrescentou para que não houvessem duvidas de que ninguém iria a Deus se não fosse por Ele. Logo não há possibilidades coerentes de ser um cristão verdadeiro e um relativista ao mesmo tempo. Ou há de se crer que Cristo estava certo ou há de se atribuir verdade a todas as religiões. O próprio Cristo afirmou que para aqueles que o seguem há o sim, sim e o não, não. Se creio que há redenção em todas as religiões sou completamente incoerente ao pregar o evangelho. Só transmitira efetivamente a mensagem de Cristo aquele que realmente acredite que as pessoas precisem dessa mensagem. Caso contrario você não passará de um grande paradoxo que não tem nada a acrescentar a ninguém. Dái nos perguntamos: queremos parecer politicamente corretos perante a sociedade, ou queremos nos apresentar como servos fieis perante Deus? A escolha é de cada um.
O discurso relativista absoluto penetrou sutilmente meu intelecto de tal forma que me peguei varias vezes pregando um evangelho morto, pois o estava relativizando para que ele parecesse mais aceitável a pessoas que tenham um grau de conhecimento intelectual maior, porém ao fazer isso eu estava duvidando da capacidade da própria Revelação de Deus, cometendo um terrível engano, pois só há poder no Evangelho para Salvar se este for pregado sem mentiras e meias palavras. Hoje já me arrependi de tal atitude e estou certo de que Deus me perdoou. Minha escolha hoje é não mais parecer politicamente correto perante o mundo acadêmico mas sim parecer fiel aos olhos de Deus.
Para finalizar gostaria de compartilhar com vocês um exemplo e um dialogo que podem ajuda-lo a entender que existe uma Verdade em relação a Deus. Suponha que você nunca tenha visto a minha mãe ( e pode ser que você nunca tenha visto mesmo) eu então peço uma descrição física da minha mãe a você, porém peço a mesma descrição de mais 3 pessoas, que igualmente a você nunca viram minha mãe. As descrições que você e essas pessoas darão sobre a minha mãe, que vocês não conhecem, variará em tamanho, em cor de cabelo e de pele, em formato de rosto e em varias outras coisas mais. Porém minha mãe existe independentemente da descrição que fizeram dela, e mais, ela existe e é diferente de todas as descrições que fizeram ao seu respeito. Todas as coisas existem independentes das opiniões que fazemos delas. Deus não é diferente. Não se iluda pensando que Deus é uma "força maior" passível de interpretação pessoal. Assim como a minha mãe Ele existe e independe da sua opinião a respeito dEle.

O dialogo que quero deixar com vocês é uma conversa entre Sócrates e Protágoras, que fala por si só:

Protágoras: A verdade é relativa. É questão de opinião.

Sócrates: Você quer dizer que a verdade é uma mera opinião pessoal?

Protágoras: Exatamente. O que é verdade para você é verdade para você, e o que é verdade para mim é verdade para mim. A verdade é pessoal.

Sócrates: Você realmente acha isso? Que a minha opinião é verdade em virtude de ser minha opinião?

Protágoras: Eu realmente acho.

Sócrates: A minha opinião é: a verdade é absoluta, não é opinião, e que você, Sr. Protágoras, está absolutamente errado. Como esta é a minha opinião, então você deve concordar que ela é verdade, de acordo com a sua filosofia.

Protágoras: Você está totalmente certo Sócrates.




Suponho que Brejeiro diria o seguinte a respeito do Relativismo Absoluto:

-"Isso me cheira a conversa de feiticeira verde."

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Nossa primeira conversa



Bem, considerem-se ao redor da fogueira experimentando um guisado de enguias com batatas. A paisagem ao lado é a charneca de Etin ao norte de Nárnia e essa cabana simples pertence ao nosso ilustre personagem, fonte de inspiração e tema de ilustração para os assuntos desse blog: O Brejeiro.
Brejeiro é um personagem do livro "A Cadeira de Prata" de C.S. Lewis, a 6° Crônica de Nárnia. Meu fascínio por esse personagem começou com a primeira leitura que fiz deste livro, logo ele se tornou indiscutivelmente meu personagem favorito de todas as Crônicas. Uma identificação se tornou latente entre a minha personalidade e o peculiar personagem.
As situações que o paulama - nome da espécie a qual Brejeiro pertence - enfrentou durante sua "jornada do herói" eram quase que as mesmas situações que eu tenho de enfrentar em minha "jornada Cristã". E a maneira como Brejeiro enfrenta essas situações adversas é a mais pessimista (ou realista, como eu prefiro) que se possa imaginar, e por conseqüências o mais cômico possível também.
O ápice desses embates que Brejeiro enfrenta é a discussão final com a Feiticeira Verde. Era incrível a que ponto a genialidade de Lewis poderia chegar, algo que aconteceu comigo por quase todos os dias em que estive na faculdade estava acontecendo alí nas paginas de um livro que "tecnicamente" era para crianças. Obviamente que a questão que era travada por Brejeiro e a Feiticeira Verdade antes de falar a mim, havia martelado na mente do próprio Lewis mais de meio século antes de martelar em minha mente. A questão dizia respeito ao Ceticismo.

Inteiro vocês da questão. O que se passa no momento da história é resumidamente o seguinte: As crianças Jill e Eustaquio estão juntamente com Brejeiro numa jornada em busca de um príncipe a muito perdido. Eles chegam então após muitos perigos a um reino subterrâneo onde os seres lá viventes são monótonos e praticamente não esboçam nenhum traço de alegria. As crianças e o paulama encontram o príncipe e o libertam de um terrível feitiço (alvo de posteriores posts) posto pela rainha daquele mundo, a Feiticeira Verde.

O que é mais interessante de se notar é que o feitiço dessa rainha é mais que algum componente mágico maléfico, seu principio ativo é o Ceticismo.

Mesmo depois de já terem ajudado príncipe Rilian a se libertar da mentira que o cativava na cadeira de prata e de todos saberem de sua maldade e sagacidade a Feiticeira Verde tenta novamente enfeitiçar Rilian e conseqüentemente Jill, Eustaquio e Brejeiro.

Com a ajuda de um pó mágico verde que subia da fogueira que inebriava os presentes no salão e tocando uma musica monótona em um bandolim – que também atrapalhava o raciocínio - a Feiticeira persuade seus alvos de que nada existe além do mundo triste e escuro que ela governa. As tentativas das crianças de dizerem que já estiveram no outro mundo, onde havia sol, florestas e céu azul eram taxativamente rechaçadas pela Feiticeira que acusava as crianças de estarem sonhando acordados, ao mesmo tempo que, dizia que imaginar esse tipo de coisa era para crianças pequenas e que eles já eram “grandinhos” demais para crerem nesse tipo de bobagem.

Quando as crianças citavam o sol, a Feiticeira as acusava de devaneios, pois elas apenas estavam vendo o lustre e imaginando por conseqüência um lustre gigantesco que iluminasse todo o céu, por conseqüência esse lustre não poderia existir pois seria apenas um aumentativo imaginário de um pequeno lustre que realmente existia.

As crianças caíram no feitiço e logo concordavam com a bruxa que na realidade não existia um outro mundo e não havia sol, pois o conceito de sol não passava de um sonho a respeito da lâmpada no teto do castelo, que realmente existia. É interessante como nesse ponto Lewis diz que era um “alívio” para as crianças e para Rilian admitir que o sol não existia e por conseqüência concordar com a bruxa. Nesse “alívio” temos claramente a experiência de Lewis quando no auge de sua juventude se sentiu aliviado ao se declarar Ateu, obviamente o “alívio” vem do fato de que ceder ao feitiço do ceticismo dê um aparente “descanso” a mente que se encontra conflitante, porém é mais claro ainda como essa desistência e esse “alivio” tem um preço caro a ser pago adiante.

Eustaquio cita então num ultimo esboço de sanidade Aslam, o Leão que no mundo de Narina é a figura da Divindade Messiânica, o mesmo argumento do sol é usado de novo pela bruxa que diz que o leão não passa de um gato visto pelos garotos em seu “mundo real” e potencializado em leão pelas crianças em um “mundo imaginário”. Dessa forma as crianças e Rilian cedem totalmente ao feitiço do ceticismo e já parecem não mais crer em coisas que um dia foram tão reais em suas próprias experiências de vida. Este é o poder do ceticismo na vida do cristão, ele pode ludibriar nossa mente cauterizando nossa consciência a ponto de negarmos nossas próprias experiências pessoais com Deus. As crianças negaram um mundo do qual elas mesmas pessoalmente haviam feito parte.

A Feiticeira Verde só não contava com o pessimista Brejeiro. Pessoas pessimistas, quase sempre, estão prontas para qualquer situação. Brejeiro toma uma atitude radical quanto ao feitiço ele apaga com os próprios pés o fogo da lareira que espalhava o doce cheiro enebriante, o feitiço perde então a sua força, ao passo que, a terrível dor da queimadura acomete os pés de Brejeiro, porém é essa dor que esclarece seus pensamentos. Quando decide abandonar o ceticismo o homem se submete a uma terrível dor, a de ter certeza de que terá de dar conta de seus atos perante uma força superior, a consciência desse fato retira o homem de sua conduta errante e ausente de sentido e o conclama a uma mudança de vida radical, mas é justamente o temor da descoberta da eternidade que leva a mente do homem a se desvencilhar de todos os feitiços.

Assim, diante de uma Feiticeira desesperada por ter de encarar um ser sóbrio, Brejeiro começa o seu argumento:

"– Uma palavrinha, dona – disse ele, mancando de dor –, uma palavrinha: tudo o que disse é verdade. Sou um sujeito que gosta logo de saber tudo para enfrentar o pior com a melhor cara possível. Não vou negar nada do que a senhora disse. Mas mesmo assim uma coisa ainda não foi falada. Vamos supor que nós sonhamos, ou inventamos, aquilo tudo – árvores, relva, sol, lua, estrelas e até Aslam. Vamos supor que sonhamos: ora, nesse caso, as coisas inventadas parecem um bocado mais importantes do que as coisas reais. Vamos supor então que esta fossa, este seu reino, seja o único mundo existente. Pois, para mim, o seu mundo não basta. E vale muito pouco. E o que estou dizendo é engraçado, se a gente pensar bem. Somos apenas uns bebezinhos brincando, se é que a senhora tem razão, dona. Mas quatro crianças brincando podem construir um mundo de brinquedo que dá de dez a zero no seu mundo real. Por isso é que prefiro o mundo de brinquedo. Estou do lado de Aslam, mesmo que não haja Aslam. Quero viver como um Nárniano mesmo que Nárnia não exista. Assim agradeço sensibilizado a sua ceia, se estes dois cavalheiros e a jovem dama estão prontos, estamos de saída para os caminhos da escuridão, onde passaremos nossas vidas procurando o Mundo de Cima. Não que nossas vidas devam ser muito longas, certo; mas o prejuízo é pequeno se o mundo existente é um lugar tão chato como a senhora diz. "

Dessa maneira Brejeiro destrói o feitiço cético e a bela Feiticeira e Rainha Verde se mostra a serpente sagaz que na verdade sempre foi. Em sua forma real ela acaba por ser finalmente morta. Assim C.S. Lewis através de seu personagem Brejeiro nos apresenta um argumento cabal contra toda a contestação cética que o Cristão verdadeiro encontra por onde quer que passe. A maioria esmagadora dos ateus pensa que o Cristão segue as leis divinas e os preceitos bíblicos simplesmente por temer o inferno. Vários textos bíblicos e o argumento do Brejeiro provam justamente o contrario: o Cristão Verdadeiro tem prazer na Lei de Deus. Não a segue por um temor. A praticaria mesmo se Deus fosse um sonho. Note que Brejeiro é o único que não deixa de crer na existência do mundo de cima hora alguma, porém ao argumentar ele se da o direito de supor a inexistência desse mundo e de Aslam, o que para ele é um absurdo, mas ele compreende que para argumentar contra o cético essa concessão passageira deve ser feita, pois só dessa maneira o cético será destituído de todo seu argumento. O que o ateu argumentará após declararmos que vivemos uma vida baseada em princípios Cristãos não por um medo de punição mas sim pelo prazer em viver dessa maneira? Mais complicada ainda fica a situação do ateu quando dizemos a ele que o “mundo real” dele não basta para nós, pois firmados nos princípios bíblicos nos tornamos maiores que este mundo, pois aquele que esta em nós já venceu este mundo. O mundo em que cremos e que para o ateu não passa de imaginação da de dez a zero no “mundo real” ao qual o ateu se prende quando cria artifícios, os mais diversos possíveis, para se esconder perante a realidade eminente da existência das coisas espirituais.

Estamos dispostos a trilhar por esse mundo de trevas, trilhar no caminho que leva ao Mundo de Cima, pois negar os “prazeres” desse “lugar tão chato” não é para nós prejuízo algum.