segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Posicionamento Brejeiro sobre o posicionamento do Pr. Paschoal Piragine Jr.


Olha primeiramente eu gostaria de dizer da minha aversão a tratar de política em púlpito. O púlpito é uma espaço de poder por excelência. De lá, se prega a palavra de Deus. Quando o pregador fala a partir do púlpito ele tem a prerrogativa de deter a palavra. Se você for parar pra pensar a coisa acontece de maneira muito diferente da que acontece em uma escola bíblica dominical, por exemplo. Por que é tão diferente? Ora se você discorda de algo, ou tem algo a acrescentar durante uma aula você ergue a mão, pedindo a palavra, e o professor, caso seja descente, lhe passará a palavra e você discutirá com ele. No púlpito, isso não acontece. Se você discorda de algo que foi dito de púlpito o máximo que você poderá fazer é comentar com alguém que esta do seu lado. É por isso que o púlpito é um espaço de poder da palavra por excelência.

Mas por que então isso não te incomoda Raul? Receber uma mensagem sem poder reagir a ela, simplesmente ficar lá sentado ouvindo? Existe um “porém” nessa questão. Quando o espaço do púlpito é usado pra se explanar A verdade revelada pelo próprio Deus, aí não há problemas. A conclusão que eu quero chegar aqui é a seguinte: um pregador, pastor, padre, bispo, enfim, qualquer ser humano, que se use do espaço de poder da palavra por excelência só tem direito de proferir lá de cima A palavra de Deus, e mais nada. Qualquer outra coisa que não seja A palavra de Deus e suas aplicações não tem o direito de serem proferidas de cima do espaço de poder que o púlpito representa. As opiniões pessoais então, nem se fala, essas deveriam passar a milhas de distancia do púlpito.

Já falei sobre isso, em Conversações e Argumentações Brejeiras passadas, mas acabo sempre tendo de voltar a contar essa mesma historia. Centenas de cristãos, irmãos nossos, foram mártires no século XV, mortos em fogueiras ou simplesmente passados a espada mesmo, sem direito a julgamento; morreram em uma missão que, para a honra de Deus, hoje é currículo obrigatório na disciplina de história, morreram para fazer a reforma protestante. Naquela época o cristianismo sofria com as garras do estado em suas costas. Depois de vencida a luta o estado laico surgiu possibilitando a liberdade de culto, essa que você desfruta. Isso criou vantagens e desvantagens. Se nós não soubermos lidar com as desvantagens poderemos arriscar nossas vantagens.
Assim, na opinião desse locutor e blogueiro, todas as vezes que vamos discutir política dentro da Igreja, devemos fazer isso NÃO do púlpito. Fazê-lo do púlpito é covarde. Sim, é uma atitude covarde, pois massifica. Massifica porque não dá o direito de resposta e pior ainda, reveste do poder sacralizado algo que não é sagrado. Tudo que é dito do púlpito, infelizmente, sai com “tom de sagrado”, mesmo que não o seja.

Quando o pastor Piragine Jr. diz no púlpito de sua Igreja “Não vote no PT” ele esta sacralizando uma opinião pessoal dele. Uma opinião carregada de equívocos e com um passado pouco sólido. A opinião é lançada ao público revestida de “sacralidade” e pior ainda, duvidando da inteligência do fiel. Digo duvidando da inteligência, pois não é necessário ter graduação em filosofia pra saber que se eu digo em quem não votar eu obviamente estou dizendo em quem votar! Ora, se eu peço ao fiel da minha Igreja para que candidatos do PT não sejam eleitos eu obviamente estou requerendo do membro da minha Igreja que vote no concorrente direto dos candidatos do PT. A audiência desse programa e os leitores desse blog são gente pensante. Quando eu digo “A Dilma não pode vencer” eu não estou pedindo para você votar Marina, ou no Eymael! “É só prestar um pouquinho mais de atenção...”

Além disso tudo já citado o Pr. Piragine ainda fez outras coisas que me deixam bastante irritado. Ele aliou terrorismo de púlpito, distorção teológica e falta de ética ministerial. Três erros crassos, em uma tacada só. A propósito de convencer drasticamente os membros de sua igreja a não votarem em candidatos do PT, Piragine guarda a Graça e a Nova Aliança por alguns instantes na gaveta e insiste que Deus julgará nossa nação! Piragine nos conduz por 10 minutos a um passado onde reinava a Antiga Aliança e ensina a seus membros que Deus é uma espécie de grande hipócrita. Sim! É isso que esta nas entrelinhas da mensagem de Piragine. Pense um pouco. Tudo, simplesmente tudo o que é citado no videozinho sensacionalista que é mostrado já acontece no Brasil a muito tempo, porém, Deus só virá nos julgar se nós deixarmos que isso se institucionalize. “Ahhh se não tiver lei apoiando e acontecer, tudo bem, mais se a lei permitir, eita, aí ferrou, aí Deus vai vir aqui assolar agente, com algum terremoto ou coisa parecida.” Leitores e ouvintes, me ajudem por favor, o país do carnaval, do turismo sexual e da corrupção a mais de 500 anos vai ser assolado e julgado se legalizarmos o aborto e o casamento gay?! Que Deus hipócrita é esse que só julgará o pecado caso ele seja legalizado?! E mais, pelo que eu me lembre, se houvessem dois justos que fossem em Sodoma e Gomorra Deus os preservaria. E ainda estamos falando de um evento ocorrido no contexto da Antiga Aliança.

A falta de ética ministerial de Piragine fica por conta de fazer parecer a sua platéia que ele não estava os influenciando. Isso é falácia meus caros, isso é muito, muito grave. Em minha opinião, ficaria menos feio vir a púlpito pedir votos a Marina Silva, por exemplo. Agora, convencer pelo medo do julgamento divino?! Táticas medievais...

Ah! A propósito, sobre os aplausos que Piragine se permite receber no final de sua palavra, não vou nem tecer comentários...

Por fim, fica claro aqui que eu sou contra o aborto e o casamento gay. Porém, também sou contra a manipulação, a promiscuidade entre o Estado e a Igreja, o simplismo de análise e contra a utilização do púlpito para qualquer coisa que passe da pregação da palavra de Deus. E pra deixar todo tipo de ilusão de imparcialidade bem afastada desse blog fica aí pra quem quiser ler que eu vou votar na Marina Silva.

Abraço a ouvintes e leitores!

11 comentários:

Estevão "BraMax" disse...

Parabéns pelo texto. Muito correto nos argumentos e fundamentação.

Só uma coisa me deixou incomodado. Se o estado é laico e em seu texto você afirma que temos que estar preparados para as desvantagens de um estado laico, por que deveria o estado proibir o casamento gay baseado numa visão religiosa? Não estou afirmando que você disse isto no seu texto, apenas levanto a discussão pelo seu comentário de que é contra o casamento gay.

Raul Vitor disse...

Olá BraMax. Se não me engano é o Estevão correto? Tsc.. acredite se quiser mais eu imaginei que surgiria essa pergunta nos comentários. Pois bem, vamos a resposta. Você e os outros leitores hão de notar que eu disse ser contra o "casamento gay" e não a legalização da união civil entre pessoas do mesmo sexo. Isso é um direito delas, ter herança, plano de saúde conta conjunta essas coisas. O que eu sou contra é o sacramento do casamento ter que ser ministrado a esses casais. Trocando em miúdos sou totalmente contra uma igreja ser forçada a abrir suas portas para realizar uma cerimonia religiosa em comemoração a união de duas pessoas do mesmo sexo. Mais uma vez para deixar bem claro: como o estado é laico dois homossexuais devem ter o direito de ter sua vida juntos, pois efetivamente já as tem, no entanto, a Igreja deve ter os direitos de nao realizar as cerimonias de seus "casamentos" e o direito de dizer que isso é pecado.
Pra encerrar baseio meu posicionamento na Bíblia:

"E respondeu-me, dizendo: Esta é a palavra do SENHOR a Zorobabel, dizendo: Não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos." Zacarias 4:6

Abraço, e obrigado por comentar!

Unknown disse...

Sinceramente? Acho que você esta bastante influenciado pelos livros de história e jogando um outro CONTEXTO sobre a palavra do Paschoal. Porque ele não poderia expor uma opinião pessoal no pulpito a luz da bíblia? Acho que você tomou muito ao pé da letra, e valorizo a atitude dele, pois em nenhum momento vi algum LIDER fazer e orientar (alertar) a igreja sobre o que esta sendo proposto. Não vi com esta "maldade" toda ou mesmo MÁLICIA, mas sim o que o PT esta para votar desde Deputado estadual, federal e senado, sem mencionar presidencia, ou seja, não pediu voto, mas a votar contra ao PT (digamos assim). No mais, gostei de ler uma opinião diferente, mas tive um prisma diferente do seu quanto a manipulação, pois mesmo que fosse, existe outrens que influencias para um caminho muito PIOR do que esta sendo proposto.
Grato.

Raul Vitor disse...

Olá Charlie, obrigado por comentar. Não creio que eu esteja tão influenciado assim por livros de história. Muito menos que eu tenha lançado outro contexto sobre a palavra do pr. Piragine. Só me espanta você continuar a pensar que pedir voto conta o PT não é pedir voto. Líderes devem orientar, como você mesmo disse, e não baixar diretrizes massificadoras com tom de sacralidade. Tenho muito medo da frustração em massa que, outros líderes, dessa vez não o pr. Piragine, irão criar em seus liderados com um discurso "Deus não vai deixar Dilma ganhar", que esta sendo amplamente divulgado em minha cidade, Goiânia. O carro chefe dessa campanha é o vídeo do pr. Piragine. Sei que provavelmente ele nem sabe que isso esta ocorrendo aqui, mas de toda forma é a palavra dele que esta sendo usada. Mais uma vez encerro minha resposta com um trecho da escritura sagrada:

"Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas." Romanos 13:1

Fica a pergunta: E se a Dilma ganhar, por acaso Deus perdeu o controle?!

Abraços!

Estevão "BraMax" disse...

Raul, sou eu mesmo, Estevão...

Imaginei que queria dizer isto mesmo, queria apenas confirmar. Também concordo com sua opinião, as pessoas devem ter seus direitos respeitados independente de orientação sexual ou religião - e isso implica, além de oficializar a união homossexual, respeitar a crença religiosa cristã que a ensina a não celebrar um casamento religioso homossexual. E é esta diferença que não estão levando em conta ao proporem o PL122, ou lei anti-homofobia.

Parabéns mais uma vez pelo POST, e pelo Blog também, está de ótima qualidade. Continue com o bom trabalho, participarei nos comentários sempre que possível. Abraço!

Sansersons disse...

Bom, assim como vc, eu sou contra o casamento gay e o aborto, mas tambem sou contra a união de homosexuais. Não sou homofóbico, mas se eu acredito que é errado a união de pessoas do mesmo sexo, tem que ser em todos os sentidos, e isso é uma opinião individual, que não necessita de represária ou julgamento alheio. O fato de vc não concordar com certas coisas da sociedade por causa de sua religião ou a maneira que vc foi criado não caracteriza, a meu ver PREconceito, mas sim uma forma válida de pensar. A minha liberdade termina no momento que começa a do outro. Eu nunca vou agredir, inferiorizar, caçar um homosexual, mas como cristão, como cidadão eu acho errado.

Ferraz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ferraz disse...

Pois é, Raul. É aquilo que eu já te disse. Se o PT defende coisas das quais eu discordo eu não devo votar nele. Se o PT defende coisas das quais o cristianismo discorda, os cristãos não devem votar neles.

Agora, coisas realmente erradas no discurso do Piragine:
1) Será que isso é realmente questão fechada no PT?
2) Na questão do julgamento divino eu concordo com voce, mas a legalização trará consequencias ruins, sim.
3) Realmente, no púlpito, o Espírito deve falar. Se aquilo que ele diz não foi revelado por Deus ao pr., não é lugar pra expor.

E por último: Tb sou Marina.

Paullo Di Castro disse...

Raul, concordo em grande parte com sua avaliação, realmente o uso do púlpito e o vídeo foram canais usados equivocadamente para se expor uma opinião pessoal.
Voto Marina e Vanderlan!

Isaque Oliveira disse...

Amém. Muito boa imformação.
Concordo Raul.

Elias disse...

Fico preocupado com as ovelhas que ouvem os pastores falarem de política no púlpito. A priori, não creio que seja pecado, entretanto, a vaidade de poder pode fazer com que seja.
Com a nova lei eleitoral, com os políticos não podendo distribuir santinhos, alugar painéis muito grandes, não realizar shows, etc. As igrejas parecem ser uma ótima estratégia para os candidatos. Assim, corre-se o risco de os pastores comerem da gordura das ovelhas de uma outra forma, ou seja, através de cargos e poder na administração pública. A bíblia diz o que pode acontcer a estes "pastores".