sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Das relações entre problemas marxistas e teológicos


Quando eu fiz graduação em História na UFG minha turma tinha apenas dois marxistas de verdade, vários afirmavam ser, mas só dois eram de fato. Para minha surpresa tive ótima convivência com os dois, principalmente porque os marxistas de verdade tem algumas características que considero muito, eles não estão apáticos quanto ao mundo em sua volta e estão longe de serem atacados pelo mal do relativismo absoluto. Com isso quero dizer que eles realmente acreditam que o projeto deles para sociedade pode ser levado a cabo.
Durante essa mesma graduação eu tive apenas um professor que realmente é marxista, informação que é espanto para quase todos. Esse professor uma vez explicou sobre um problema estrutural que atinge o marxismo hoje e eu quero compartilhar esse problema com vocês. Mas você deve estar se perguntando "Raul isso aqui não é um blog sobre apologética?! Do que você tá falando?". Calma, eu vou explicar o problema que ocorre com o marxismo por que ele é análogo, na minha opinião, ao problema que o ocorre também com a teologia.
Segundo esse meu professor o marxismo de hoje foi "emasculado", isso significa que ele foi "capado", tiraram-lhe a capacidade de se reproduzir. Metáfora forte não? Mas como isso aconteceu? Como impediram o marxismo de se perpetuar? Simples, retiraram dele aquilo que o diferenciava de todas as outras filosofias políticas: seu princípio de engajamento político. Depois das tentativas falhas de o aplicar na realidade durante o século XX os profissionais das ciências humanas anularam o princípio político do marxismo utilizando-o como utilizam todas as outras filosofias políticas, pois, anularam dele aquilo que o diferenciava. Assim, os poucos marxistas de verdade que ainda batalham por aí veem seu projeto político "envelhecer" sem perspectiva de se perpetuar.
Agora percebam, a mesma coisa acontece com a teologia quando ela se liberaliza! Num resumo básico, teologia liberal é o ramo da teologia onde o dito teólogo interpreta a bíblia como lhe convém estudando-a fora do seu âmbito canónico, enfim, vários dos teólogos liberais nem creem na salvação que há em Cristo Jesus. Assim, retira-se o princípio fundamental do cristianismo, a saber, salvar o homem, e utiliza-se a bíblia para uma série de aplicações que no final não são seu objetivo!
Da mesma maneira que o marxismo despolitizado não produzirá revolução, cristianismo liberelizado não produzirá salvação.


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Não citei os nomes nem dos meus colegas de graduação e nem do meu professor, pois, não os consultei sobre se permitiriam ou não.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Cícero e Epicuro versus Dawkins


Para começarmos nossa reflexão deste post vejamos um trecho da obra De natura deorum, do grande retórico e filósofo romano Cícero, que no trecho 44 do capítulo XVII, comenta uma afirmação do também filósofo Epicuro.

"Vê-se muito claramente estabelecido, pois, qual é o fundamento desta questão. Deado que a crença nos deuses não foi estabelecida por autoridade, costume ou lei, mas repousa firme no consenso de todos, sem exceção, é necessário inferir a existência dos deuses, uma vez que temos instintivamente, ou melhor, inato o conceito deles. Ora, deve ser verdadeiro aquilo sobre o que concorda a natureza de todos. Portanto, deve-se admitir que os deuses existem. E como essa verdade é aceita universalmente, não somente pelo filósofos, mas também pelos não educados, deve-se admitir como verdadeiro também que temos uma pré-concepção dos deuses [...]"

Cícero morreu em 43 a. C., obviamente não era um cristão, mas sua percepção o levava a concordar com a tese de Epicuro de que as divindades existem. Este texto me serve a dois propositos, o primeiro vem "por tabela" , aparece da propria utilização do trecho de Cícero e o segundo é o objetivo do post.

1 - Mostrar a você, caro leitor, que essa discussão a respeito da existência do sobrenatural e do divino é muito mais antiga do que se imagina. Ao mesmo tempo, como você mesmo percebeu, há argumentos bastante convincentes, desde muito mais tempo do que se imagina.

2 - Ultimamente tenho pensado basatante acerca de um movimento que esta na moda hoje em dia, o chamado New Ateism. Para o novo ateísmo, não basta que a religião seja afastada do Estado, para que este se torne laico, para este movimento a religião tem que ser extinguida. Segundo os "cavaleiros" (recuso a chama-los "paladinos") do novo ateísmo o sobrenatural não existe e a crença em divindades só trás atraso a humanidade.
Agora eu quero chamar a sua atenção para um fato bastante simples (tenha o texto de Cícero em mente):
Para o Novo Ateísmo o mundo INTEIRO esta enganado enquanto eles estão certos. Levando em consideração o fato de que não existe nenhuma cultura, da qual se tenha conhecimento ,que não adore alguma espécie de divindade o novo ateísmo se põe simplesmente contra o resto da humanidade, e quando digo todo o resto, falo em sentido de tempo passado também, pois eles desqualificam a crença das pessoas que viveram antes de nós também.
Quero deixar bastante claro aqui que não estou fazendo discurso relativista, quem acompanha o Argumentações sabe muito bem no que eu creio, meu objetivo apenas foi o de alertar o leitor quanto aos absurdos que rodeiam Richard Dawkins e seu pequeno sequito de seguidores, que estão certos enquanto todo o resto do mundo esta errado.

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Imagem do post:
Cícero e Catilina
1882/1888, mural a fresco
Sala Maccari, Palazzo Madama (Senado Italiano), Roma, Itália